FOME NEGRA
6 E
ouvi uma voz no meio dos quatro seres viventes que dizia: Uma medida de trigo
por um denário; três medidas de cevada por um denário; e não danifiques o
azeite e o vinho.
Apocalipse
de JESUS CRISTO segundo São João, cap. 6:6.
Quatro
Seres viventes.
Quer
vencer o cavalo preto
Que
arranja um jeito
De
semear a fome
Que
sempre consome
Muita
gente no mundo?
“No mundo governa um czar
impiedoso: fome é o seu nome.”
Nikolai
Alekseievich Nekrássov (1821-1878).
Poeta, escritor, crítico e
editor russo.
Existe
uma fome milenar
Que
muita gente sente:
A
fome de estudar.
Existe
fome de montão
Em
toda e qualquer nação
Onde
falta o emprego.
“Saudade é como um pouco de
fome:
só passa quando se come a presença.”
Clarice Lispector
(1920-1977).
Escritora ucraniana.
Há
fome em muito lar
Onde
o chefe de família
Não
tem como a sustentar.
“Só te esquecerei quando um desenhador, desenhar fome no prato....”
Abraham Lincoln (1809-1865).
Presidente norte-americano.
Há
muita fome de pão,
Pois
pão virtual
Só
alimenta na televisão.
A fé
duvidosa
É a
fome da verdade
Em
toda comunidade religiosa.
Há
muita fome de moradia
Para
quem permanece dia a dia
Sem
ter onde reclinar a cabeça.
A fome
de liberdade
Cresce
em toda parte
Como
uma obra de arte
Que
não tem fim.
“Olhei noutro sentido, e
pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.”
Miguel
Torga (1907-1995).
Poeta
e escritor português.